domingo, 7 de agosto de 2011

Caridade a Olhos Vistos

Em um mundo dominado pela ansiedade, pressa, individualismo negativo (classifico como negativo porque há o bom também), parece que ninguém tem tempo pra ninguém, nem pra nada, a não ser para a solução e satisfação das próprias necessidades e interesses.
Muitas vezes não temos tempo nem para os nossos, quem dirá, para os estranhos! E se estes estranhos forem cegos? Tanto menos complicado, já que nossa indiferença ou negligência não seria flagrada pela retina incapaz de registrar a luz. Lembro-me de um amigo que sempre repete que no mundo é cada um por si.

Pois esta semana, tive uma grata surpresa que me encheu de esperança nos homens e no futuro, além de me beneficiar com instantes de verdadeira inspiração sublime e paz. Me explico!

Estava eu indo para o trabalho logo após o almoço quando tive que parar num semáforo bem em frente ao terminal de ônibus de Americana, na Avenida Antonio Lobo. Foi alí que a cena se desenrolou como um quadro pintado por Deus em plena luz do Sol para nos exemplificar que podemos sempre fazer o bem.
Três cegos atravessavam a movimentada avenida em direção ao terminal com certa dificuldade para identificar o solo e suas armadilhas. Entre tropeços e passos inseguros, eles sorriam com serenidade e bom humor de quem já se acostumou aos percalços da deficiência. Mas talvez o motivo não fosse só esse.
Não seria o fato de quererem ser agradáveis ao homem que "perdia" seu tempo para os ajudar?
O homem se adiantava aos passos dos desconhecidos amigos e, ao chegar à segunda via da avenida, parou diante dos carros, motos e ônibus acenando para que aguardassem a travessia cega.

Algo incomum nos dias atuais, porém, de certa forma comum. Mas um detalhe tornava o quadro mais singular e tocante. O homem que ajudou os três cegos não se dirigia ao terminal para igualmente tomar um ônibus. O homem era um vendedor de picolés que abandonou seu carrinho no convívio, do outro lado da avenida para prestar um favor a indivíduos que não lhe olhariam nos olhos para agradecer. E mais! Correndo o risco de ter seu carrinho de picolés, objeto de minguados ganhos financeiros, roubado por terceiros.
E para completar, de forma alguma se tratava de uma tarefa tida obrigação social. Era possível sentir a satisfação do guia improvisado em poder ajudar nos seus olhos, sorriso e atitude de boa vontade.

Quantas pessoas, além de mim, aquele homem alcançou com um gesto genuíno e desinteressado de caridade? Quantas pessoas pararam pra pensar sobre o ocorrido e as lições vivas ali contidas? Quantas bençãos aquele homem atraiu pra si em tão poucos minutos onde seus próprios interesses foram substituídos pela necessidade do outro?

Eu não sei responder, mas com certeza, não dá pra dizer que este mundo está perdido!
Paz pra você!

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